terça-feira, 25 de novembro de 2008

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

1. Quais os critérios de uma avaliação Tecnicista?
2. Quais os critérios de uma avaliação Mediadora?

De acordo com todos os conceitos que viemos tentando construir durante o semestre, na Atividade Acadêmica de Ação Pedagógica e Avaliação, e me valendo de conhecimentos elaborados em um processo de estabelecimento de relações desses conceitos com aprendizagens significativas provenientes das vivências em outras atividades propostas no currículo de minha graduação dentro da UNISINOS, buscarei, aqui, escrever um texto confrontando essas duas questões citadas acima.
Para iniciar, é preciso que entendamos que a educação no mundo é dividida em dois grandes blocos, a saber: um de reprodução de conhecimentos, que visa a manutenção do status quo social (adaptação do indivíduo à sociedade existente) e a não criticidade, com a finalidade da não tentativa de subversão de um sistema cômodo para a classe dominante; e outro de construção de conhecimentos, que visa uma transformação social por compreender a luta de classes existente e desigual. Alguns podem estar se perguntando sobre o que isso tudo tem a ver com as duas questões às quais este texto se refere. Seguimos adiante e vamos à resposta.
O grande choque existente, que coloca essas duas perspectivas de avaliação em estado de contraposição, está intrinsecamente relacionado com os blocos opostos citados no parágrafo anterior. Enquanto a pedagogia Tecnicista traz a idéia de formação do indivíduo competente para o mercado de trabalho, baseando-se na idéia de adequação do indivíduo à sociedade e avaliando o resultado final (ênfase no “produto”), as pedagogias que propõe uma avaliação Mediadora consistem em problematizar a sociedade existente, buscando transformá-la e torná-la mais justa. Nesse sentido, podemos perceber o forte e potente veio político que muitas vezes fica implícito e escondido nas ações pedagógicas, potencializando ideologias.
Partindo de forma mais clara para responder as questões propostas, as duas perspectivas de avaliação se distinguem em objetivos, formas, conteúdos e significados. A compreensão da avaliação, de modo geral, é distinta. Segundo BEHRENS:

“A avaliação na abordagem tecnicista visa ao produto. O sistema de Instrução leva a desencadear processos de avaliação na entrada (pré-teste) e na saída (pós-teste) do sistema. A educação é proposta como em uma fábrica: o aluno entra numa esteira de produção, é processado e resulta num produto. (...) As avaliações reprodutivas levam à exigência de uma forte dose de memória e retenção e, por conseqüência, ocasiona um alto índice de reprovação. A tônica é na informação, na palavra, e não na formação e no espírito crítico.” (2005, p. 51)

O critério fundamental de avaliação na tendência tecnicista fica, de acordo com LIBÂNEO (1984, p. 30), por conta de uma “modificação de desempenho”. Se possível, mais adequado seria se o aluno respondesse aos questionamentos da prova de acordo com as palavras do professor ou como consta no manual (ou livro didático) utilizado nas aulas. Ainda seguindo LIBÂNEO, “o ensino é um processo de condicionamento através do uso de reforçamento das respostas que se quer obter” (1984, p. 31). HOFFMANN (2003), afirma que a avaliação, nesse sentido, tem fins classificatórios, sendo opostos à uma educação de qualidade. Assim, somente “os melhores” (de acordo com uma avaliação que não busca a reflexão e o pensamento lógico) estarão preparados e prontos para ingressarem no mercado de trabalho.
Em contraponto ao que vinha sendo dito neste texto, mudo, a partir de então, o eixo da fala, do entendimento e da lógica que competem às questões relacionadas à avaliação para tratar de uma perspectiva Mediadora, que visa atender às reais necessidades dos alunos enquanto seres imperfeitos, sedentos pelo conhecimento, que precisam estar situados sobre seus avanços no seu processo ensino-aprendizagem.
Na tentativa de se criar alternativas que trouxessem à educação uma garantia de aprendizagem e de avanço nos conhecimentos trabalhados, ampliam-se as concepções da avaliação e o entendimento sobre esse elemento fundamental no processo educativo. Busca-se, então, atribuir um sentido real e um significado real para a avaliação e esta deixa de ser, na perspectiva Mediadora, mera atribuição de uma nota. Assim, pretendo-se alcançar uma educação que transforme o educando em sujeito do seu conhecimento, BECKER apud HOFFMANN (2003, p. 25) diz:

“...quanto mais o educando for objeto dos conhecimentos nele depositados, menos condições terá de emergir como sujeito de consciência crítica, condição esta de sua inserção transformadora no mundo.”

Na avaliação mediadora, o professor deve buscar realizar um acompanhamento sistemático e gradual de cada um dos alunos, provocando-os e os instigando à pesquisa e à busca incessante por novos conceitos que deverão ser re-significados com a mediação do profissional, construindo-se o conhecimento. Dessa forma, HOFFMANN (2003, p. 28) afirma:

“O significado primeiro e essencial da ação avaliativa mediadora é o ‘prestar muita atenção’ na criança, no jovem, eu diria ‘pegar no pé’ desse aluno mesmo, insistindo em conhecê-lo melhor, em entender suas falas, seus argumentos, teimando em conversar com ele em todos os momentos, ouvindo todas as suas perguntas, fazendo-lhe novas e desafiadoras questões, ‘implicantes’, até, na busca de alternativas para uma ação educativa voltada para a autonomia moral e intelectual. Autonomia, que segundo La Taille (1992, p.17), ‘significa ser capaz de se situar consciente e competentemente na rede dos diversos pontos de vista e conflitos presentes numa sociedade’”.

A avaliação mediadora, portanto, não se limita a atribuir uma nota ou um conceito, mas, sim, serve para manter o aluno informado sobre as possíveis aproximações ou quanto aos distanciamentos das suas argumentações em relação ao eixo curricular norteador do processo ensino-aprendizagem. De fato, o trabalho é muito mais complicado, mas professor algum pode se acomodar diante de uma escola que não prime pelas reais aprendizagens dos alunos.

Referências Bibliográficas:

• BEHRENS, Marilda Aparecida. O paradigma Emergente e a prática pedagógica.
Petrópolis, RJ : Vozes, 2005.
• LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública: a Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos. São Paulo -SP : Edições Loyola, 1984.
• HOFFMANN, Jussara. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade. Porto Alegre -RS : Editora Mediação, 2003.