quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Pensando e repensando a educação...[2]

(Escrito por JEFFERSON CASTRO)

Eis que tentarei, aqui, escrever de maneira a estabelecer um diálogo e elucidar meus pensamentos acerca da temática abordada pelo amigo Rodrigo Mallmann no texto "Pensando e repensando a educação...".

Para se falar sobre o assunto educação, é preciso que tomemos consciência sobre o que é educar: Muitas fontes tratam o ato de educar como processo de desenvolvimento moral, intelectual e físico ou, ainda, abordam a questão da promoção/desenvolvimento de boas maneiras.
Não entendo a educação como processo que se dá de fora para dentro (apreensão da realidade exterior) e muito menos aceito a idéia de que alguém eduque outra pessoa (e isso não significa a não-necessidade da existência de professores, mas, sim, a reconfiguração de sua função). Compreendo a educação, em concordância com autores/pensadores como Paulo Freire,  como um processo pessoal de busca que precisa ser orientado/facilitado/mediado por alguém (mas é processo pessoal). Com base nisso, se eu pudesse resumir (embora os resumos sejam, em geral, limitadores demais) o processo de educar-se, me valeria de dessa expressão: "aperfeirçoar-se" (tornar-se melhor, busca por ser sempre mais, perceber-se inacabado e, principalmente, perceber-se responsável pela construção de sua história).

Para não me estender demais nesse ponto, citarei um trecho das Primeiras Palavras, parte inicial do livro Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire, que, para bom entendedor, fala muito sobre educação:
“[…]Na verdade, seria incompreensível se a consciência de minha presença no mundo não significasse já a impossibilidade de minha ausência na construção da própria presença. Como presença consciente no mundo não posso escapar à responsabilidade ética no meu mover-me no mundo. Se sou puro produto da determinação genética ou cultural ou de classe, sou irresponsável pelo que faço no mover-me no mundo e se careço de responsabilidade não posso falar em ética. Isso não significa negar os condicionamentos genéticos, culturais, sociais a que estamos submetidos. Significa reconhecer que somos seres condicionados mas não determinados. Reconhecer que a História é tempo de possibilidade e não determinismo, que o futuro, permita-se-me reiterar, é problemático e não inexorável.”
A invocação da responsabilidade ética de cada educando precisa ser a essência da educação.
É evidente que todo sistema educacional precisa estar (e está) diretamente vinculado a projetos de mundo (ou de comunidades, cidades, estados e países). Ter finalidades e objetivos são requisitos básicos para qualquer processo educacional. O grande desafio está em saber quais são os objetivos que estão sendo buscados em cada sistema. Sigamos adiante...

O sistema educacional brasileiro, por vivermos dentro de uma lógica mundana capitalista e empilhados numa sociedade de classes (vejo duas: a classe dominante e a classe dominada), traz como fiinalidade principal do seu processo a PREPARAÇÃO DO CIDADÃO PARA O MERCADO DE TRABALHO!
Vamos ver isso nos escritos de nosso país?

"TÍTULO II: Art.2o. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho." (Lei 9.394/96 - Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional)
Desde já adianto que sonho com um mundo bastante diferente, mas compreendo as dificuldades para se chegar lá. Não sou contra o trabalho, mas, sim, contra as proporções grotescas que o trabalho tomou nas sociedades de hoje (ver texto "Escravos em pleno Séc. XXI...!?"). O grande problema está no fato de termos, no Brasil, uma educação que parece ter se engessado e esquecido dos seus outros compromissos com a sociedade, quais sejam: desenvolvimento pleno do educando e preparo para exercício da cidadania. As aulas, hoje em dia, passaram a ser um emaranhado de saberes desconexos e sem qualquer sentido para os alunos, em muito porque são saberes necessários para serem aplicados junto com técnicas e modos de fazer no [possível] trabalho posterior... Assim, a geometria pode ser importante para quem for trabalhar com arquitetura (e torce-se sempre para haja um futuro arquiteto na turma)! A Educação Física "precisa" abordar os esportes: e toma-lhe bola para a galera, sem qualquer problematização social possível do esporte. E os sentidos ficam prejudicados... E os alunos ficam perdidos!

Puxando Paulo Freire novamente para essa conversa, lembro que ele afirma que os educadores precisam tomar uma decisão diante de sua tarefa (e tendo compreendido sua responsabilidade ética enquanto profissional): educar para libertar (educar para a reflexão) ou educar para a manutenção do modelo vigente (adestrar). Ele ainda afirma que educar, no único sentido em que julga aceitável, implica subverter a ordem classista atual, ampliando a margem de poder das classes menos favorecidas e igualando as oportunidades de comando.

O texto de Rodrigo Mallmann em muitos momentos permite aproximações com as visões que busquei deixar expressas aqui nesse pequeno trecho. É fundamental que busquemos uma educação que provoque a reflexão, que permita aos educandos o seu desenvolvimento intelectual, físico e artístico e que permita que as pessoas sejam dinâmicas... Os métodos, realmente, estão muito atrasados e, em geral, a escola e seus professores se tornaram grandes inimigos dos alunos. O aprender virou obrigatoriedade e já não é mais compreendido como parte daquele compromisso ético de "sermos sempre mais". O mundo gira em torno do trabalho e, para trabalhar, há que se estudar muito muito muito!!

A educação, portanto, precisa ser questionadora de toda essa lógica de mundo na qual estamos inseridos e da qual fazemos parte. Não podemos simplesmente aceitar o sistema como ele é: faz-se mister problematizar, principalmente quando [todos] percebemos que a situação nos agrada por completo... Persigamos, mesmo, o "por que[?]" das coisas, superando a simples satisfação com o "porque sim[!]", e daqui partiremos para processos nos quais a reflexão crítica da realidade (que é constructo histórico-social) assuma o lugar da mera transmissão de conteúdos e técnicas.

A meu ver, a mudança da sociedade e da educação dependem, em muito, do despertar para a compreensão absoluta de que cada ser humano é parte fundamental do todo e do entendimento extremamente necessário da sua responsabilidade ética diante da construção da sua história. Isso tudo implica, obrigatoriamente, a libertação do homem-objeto para sua transformação em homem-sujeito, dono de seu caminho e profundo conhecedor de si e da sociedade que o cerca. Fala-se aqui, de educação para a liberdade e não de adestramento para um mercado de produção e consumo. Fala-se, em suma, de uma esperança gigantesca de que os sonhos e as utopias possam ser sempre perseguidos num mundo no qual o trabalho seja uma forma de se viver (e não para se sobreviver) e, ainda, onde a felicidade, mais que o dinheiro, seja o bem mais precioso.

Um comentário:

Fernando Pfeff disse...

Olha só... li os tres textos sobre a educação e cheguei a conclusão que não sei nada sobre o assunto e nem o que falar, porque não tenho formação pedagógica pra analisar da forma que vocês analisaram, mas sei que precisamos (Brasil) de uma mudança radical, ampla e irrestrita nesta área. Sou do tempo em que ao entrar pra escola a gente ja sabia dizer por favor, obrigado e com licença e cabia aos mestres nos ensinar as coisas que fazem o mundo mover. E foi assim até a minha graduação. Acho que aprendi o que precisava aprender, mas aprendi, também, o que não precisava, mas como não é isso que está em questão... Vamos torcer para que o novo Ministro da Educação chegue lá com a ideia de melhorar o ensino efetivamente.
Não acredito em criticas feitas anonimamente. Parabens Mallmann, consegui entender o que quis dizer, não sei se conseguiria se fosse mais acadêmico. Parabéns Jefferson pela iniciativa e por fim... parabéns Cássia, muito bom!