sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Ser educador...

Há tempos tenho escutado as mesmas perguntas. Para ser mais exato, desde que tomei consciência de que desejava cursar Licenciatura em Educação Física escuto "a pergunta que não quer calar": POR QUE ESCOLHEU SER PROFESSOR??

Esse questionamento bate em mim quase como um tapa no rosto, mesmo porque sei que, na grande maioria dos casos, aqueles que me fazem esta pergunta têm, no seu íntimo, a idéia de que devo ser louco. Por outro lado, esse questionamento me fortalece na medida em que me percebo acreditando nos meus sonhos, embora compreenda as inúmeras dificuldades da profissão. Grosso modo, aqueles que me vêem enquanto louco devem admirar a minha coragem e vontade.

Entretanto, eu mesmo não me julgo a pessoa mais normal do mundo. Acredito, também, que nenhum professor realmente se auto-perceba assim. Isso porque realmente somos loucos, muito embora essa nossa loucura esteja muito mais para uma sede de mudança quase sempre utópica. Quase sempre!

Respondo, portanto, publicamente, àqueles que desde sempre me perguntaram "O que te deu na cabeça para tu escolheres ser professor?". E respondo, talvez, por toda uma classe.

Sou professor porque consigo acreditar no meu sonho. Porque não compreendo minha existência sem deixar algum legado para alguém. Porque não sei ver coisas erradas e simplesmente dar de ombros. Porque vejo um mundo de pernas para o ar (e ele não está simplesmente plantando bananeiras por estripulia ou "sapequisse") do qual todos não gostamos e não pretendo mantê-lo da mesma forma.

Ser professor é, antes de tudo, acreditar na mudança e confiar na sua própria capacidade. É confiar no ser humano como um ser dotado de inteligência (muito embora poucos realmente a utilizem) que pode, quando bem entender, realizar as alterações necessárias em um sistema por ele criado para tornar a vida realmente melhor. Ser professor é conseguir pensar em todos, entender que o mundo não depende só de um, buscar fazer o possível para que cada comunidade se perceba enquanto parte fundamental de um todo maior. Ser professor é tentar, a todo momento e sem desistir, superar as dificuldades e as barreiras que a própria sociedade cria, quase como um peixe que luta contra a correnteza por toda a sua vida.

Sou professor, por tudo isso que cito acima. Sou professor porque sou indignado com um mundo criado para poucos, que seleciona, que exclui, que nega o outro, que atira o diferente para a margem e que é completamente contra a própria vida. Precisamos, desde pequenos, fazer o máximo possível para sermos reconhecidos enquanto senhores/mestres/doutores quando, na verdade, precisaríamos apenas viver de modo feliz uma vida na qual todos fossem reconhecidos enquanto iguais.

Sou professor por reconhecer o forte poder político-transformador que essa tarefa pode ter se bem executada. Educo, sim, para a transformação. Educo, sim, para a liberdade. Educo, sim, para a saúde. Educo, sim, para que meus alunos questionem toda estrutura social que aí está posta e para a qual muitos apenas dizem amém. Não espere que eu eduque para manter modelos.

Aos que sempre me questionaram, essa é a minha resposta. Sem críticas às demais profissões, sem querer aqui dizer que a minha profissão é a mais importante. Apenas, acho bastante válido que todos se deixem tomar por esse pequeno "desabafo" que mostra a mais completa lucidez de um louco que por aí vaga.

"Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda."- (Paulo Freire)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A maior dificuldade...

Já não sei o que pensar e, para ser bem mais sincero, JÁ NEM PENSO PARA SABER...

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Meu eu comigo mesmo... Teu tu contigo mesmo!!

Estar sozinho, ficar calado.
Até porque, como costumam dizer, falar sozinho é coisa de louco...

Permanecer por tempos imerso e preso nos próprios pensamentos, sem conseguir sequer desviar a atenção para qualquer outra coisa que vá além dos "PROBLEMAS"! Isso não é ruim, não é negativo... Está longe de ser um abandono à vida. Neste caso, é justamente o contrário!

Vivemos numa busca incessante pela satisfação de necessidades. Veja bem... prefiro repetir: SATISFAÇÃO. E satisfazer é saciar, deixar algo completo, pleno, cheio. Quando saciamos uma ou mais de nossas necessidades, surgem outras, diferentes e novas necessidades que exigem o esforço pessoal para a sua satisfação.

Amar é uma necessidade sim (assim como ser amado). Ter amigos, também (assim como ser amigo). Ambas tão fundamentais quanto as necessidades mais básicas de nossas vidas: respirar, comer, defecar (aos que me conhecem bem, prefiro CAGAR...Sem frescura!), urinar (do mesmo modo que CAGO, EU MIJO!), dormir...

Todas as necessidades listadas acima (e todas aquelas que tu pensastes aí) - com exceção das nossas necessidades biológicas/fisiológicas -, ao que parecem de imediato, são necessidades que parecem transitar entre duas pessoas [em um relacionamento qualquer]. AMAR E SER AMADO. RESPEITAR E SER RESPEITADO. TER AMIGOS E SER AMIGO. Até aí, tudo okay...

Prefiro deixar aqui uma pergunta para evitar ferir a proposta mesma deste texto.

Se para partirmos para outras necessidades devemos primeiro satisfazer necessidades "anteriores", o que seria mais anterior do que buscarmos satisfazer as necessidades que temos conosco mesmos?

E disso fica:
Para amarmos alguém e recebermos esse amor de volta, devemos ter AMOR PRÓPRIO primeiramente. Para respeitarmos alguém e podermos ser respeitados, devemos nos respeitar antes de tudo. Para termos amigos, exige-se que sejamos amigos das pessoas e, antes de tudo, que nos suportemos por si (literalmente, que sejamos amigos de nós mesmos).


De nada vale ir adiante sem ter saciado as tuas necessidades mais essenciais.
Seguir a vida de qualquer jeito é desrespeitar-se, enganar-se (e, muito provavelmente, estarás desrespeitando alguém, enganando alguém).

Ama-te, suporta-te, gosta-te, respeita-te, entenda-te... É só tu e tu mesmo! Não viva na ilusão de que encontrarás no outro aquilo que tu mesmo não possui. Sejas honesto e jogue limpo... CONTIGO MESMO!

De nada vale criar ilusões, falsas ilusões. Sonhar, sim. Mas SONHAR é outra coisa!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Amor e a Loucura

(Autor desconhecido, extraído do blog http://pijama-mistico.blogspot.com/)

Contam que uma vez se reuniram todos os sentimentos
qualidades e defeitos dos homens em algum lugar da terra.
Quando o ABORRECIMENTO havia reclamado pela terceira vez,
a LOUCURA, como sempre tão louca, lhes propôs:

Vamos brincar de esconde-esconde?
A INTRIGA levantou a sobrancelha intrigada e
a CURIOSIDADE sem poder conter-se perguntou?
Esconde-esconde?
Como é isso?
É um jogo, explicou a LOUCURA, em que eu fecho os olhos e
começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem,
e quando eu tiver terminado de contar,
o primeiro de vocês que eu encontrar,
ocupará o meu lugar para continuar o jogo.
O ENTUSIASMO dançou seguido pela EUFORIA.
A ALEGRIA deu tantos saltos que acabou por convencer
a DÚVIDA e até mesmo a APATIA, que nunca se interessavam por nada.

Mas nem todos quiseram participar....
A VERDADE preferiu não esconder-se...
"Para quê, se no final todos me encontram?
A SOBERBA opinou que era um jogo muito tonto
(no fundo o que a incomodava era que a idéia não tivesse sido dela).
A COVARDIA preferiu não arriscar-se.
Um, dois, três, quatro...começou a contar a LOUCURA.
A primeira a esconder-se foi a PRESSA,
que como sempre caiu atrás da primeira pedra do caminho.
A FÉ subiu ao céu e a INVEJA se escondeu atrás da sombra do TRIUNFO,
que com seu próprio esforço tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta.

A GENEROSIDADE quase que não consegue esconder-se,
pois cada local que encontrava,
lhe parecia maravilhoso para alguns de seus amigos.
Se era um lago cristalino, ideal para a BELEZA.
Se era a copa de uma árvore, perfeito para a TIMIDEZ..
Se era o vôo de uma borboleta, o melhor para a VOLÚPIA.
Se era uma rajada de vento, magnífico para a LIBERDADE.
E assim... acabou escondendo-se em um raio de sol.

O EGOÍSMO, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o início...
ventilado, cômodo, mas apenas para ele.
A MENTIRA escondeu-se no fundo do oceano
(mentira, na realidade, escondeu-se atrás do arco-íris)...
e a PAIXÃO e o DESEJO, no centro dos vulcões.
O ESQUECIMENTO não recordo-me onde escondeu-se,
mas isso não é o mais importante.

Quando a LOUCURA já estava lá por volta dos 999.999,
o AMOR ainda não havia encontrado um lugar para esconder-se,
pois todos já estavam ocupados,
até que encontrou uma roseira e,
carinhosamente, decidiu esconder-se entre as suas flores.

A primeira a aparecer foi a PRESSA,
apenas a 3 passos de uma pedra.
Depois escutou-se a FÉ discutindo com Deus,
no céu, sobre zoologia.
Sentiu-se vibrar a PAIXÃO e o DESEJO nos vulcões.
Em um descuido a LOUCURA encontrou a INVEJA,
e claro, pode deduzir onde estava o TRIUNFO.
O EGOÍSMO, não teve nem que procurá-lo:
ele sozinho saiu disparado de seu esconderijo,
que na verdade era um ninho de vespas.

De tanto caminhar a LOUCURA sentiu sede
e ao aproximar-se de um lago, descobriu a BELEZA.
A DÚVIDA, foi mais fácil ainda,
pois a encontrou sentada sobre uma cerca sem decidir
de que lado se esconder.
E assim ... foi encontrando a todos.

O TALENTO entre a erva fresca,
a ANGÚSTIA em uma cova escura,
a MENTIRA atrás do arco-íris
(mentira, estava no fundo do oceano)
e até o ESQUECIMENTO que já havia esquecido
que também estava brincando de esconde-esconde.

Apenas o AMOR não aparecia em nenhum lugar.

A LOUCURA, procurou atrás de cada árvore,
embaixo de cada rocha do planeta e em cima das montanhas.
Quando estava a ponto de dar-se por vencida,
encontrou um roseiral.
Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos,
quando no mesmo instante, escutou-se um doloroso grito....
os espinhos haviam ferido o AMOR nos olhos.

A LOUCURA não sabia o que fazer para desculpar-se....
Chorou, rezou, implorou, pediu perdão
e até prometeu ser seu Guia.
Desde então...
desde que pela primeira vez se brincou de esconde-esconde na terra,
o AMOR é cego e a LOUCURA sempre o acompanha.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Meu erro...


(Escrito por Jefferson Castro)



Talvez tenham chegado os tempos que eu tanto temia...

A racionalidade pessoal se deixou superar pelo sentimentalismo provindo de uma [ir]racionalidade coletiva. Já não se pensa o que se quer... Vivemos tendenciados a acreditar naquilo que muitos acreditam. Sentimos necessidade de ver "nosso pensamento" amparado pelo pensamentos de alguém mais!

O que há de errado nisso? Se "nossos pensamentos" estão de acordo com os pensamentos de alguém mais, isso nos traz o sentido de que não estamos sozinhos no mundo, bem como nos entorpece com a [falsa] ilusão de que "nosso pensamento" é correto. Seria isso mesmo verdade? Talvez nem sempre...

Prefiro acreditar que precisamos nos tornar SUJEITOS de nosso próprio pensamento. Saber o que se quer, saber o que se defende, saber o que se pretende... Assim, digo, SÓ ASSIM, não sinto [EU] a imensa necessidade de escorar MEU PENSAMENTO por sobre os pensamentos dos demais, utilizando as idéias dos outros como muletas que me darão [FALSA, de novo] sustentação. Torno-me, portanto, SUJEITO DE MIM MESMO.

Não afirmo ser esta uma tarefa simples. Eu mesmo tropeço e muito nessa vida, topando com um mundo de bordões que se fazem verdadeiros pelo número grotesco de seguidores que deles se apropriam. É díficil, realmente! Conseguir pensar por si, portanto, acaba sendo tarefa para ousados, incansáveis e persistentes. Ousaria afirmar aqui que pensar por si é tarefa de SONHADORES.

Chegando ao MEU ERRO..., ando temeroso quanto ao "pensamento coletivo", digo, quanto à descaracterização do pensamento. Pensamentos de outros, válidos para outros, sem cara, sem identidade... Pensamentos provindos de outras vidas, de outras realidades, de outras cabeças, de outras pessoas, TALVEZ NUNCA NOS SEJAM REALMENTE ÚTEIS. Pensar parecido, acontece, de fato. Aproveitar os pensamentos dos outros para FUNDAMENTAR, DAR SUPORTE aos nossos próprios pensamentos, é válido...

E segue a pergunta básica: Mas o que há de errado nisso? Talvez nada, para quem pouco se importa com o fato de tentar viver a vida por si, para quem não deseja experimentar realmente o gosto do mundo com seu tempero favorito [como o toque especial do Cheff].
E talvez esteja tudo errado para aqueles que ainda buscam experimentar a vida como gostam, defendendo seus princípios, lutando pela liberdade...

... e quanto ao Meu erro...

...Talvez eu tenha pensado demais. Talvez eu tenha percebido que não vivo com a cabeça dos outros, com os pensamentos dos outros. Talvez eu tenha notado que os pensamentos dos outros (e aquilo que acham ou deixam de achar) não podem "fazer a minha cabeça" e, assim sendo, não compreendí quem estava do meu lado tendenciada pela força da massa de pensamentos que a incomodavam (e a incomodam até agora).

O meu erro foi ter sido amigo quando achava, por mim, que ser amigo era correto. Meu erro foi ter dado atenção a quem precisou de atenção em algum momento. O meu erro foi, simplesmente, TER ME TORNADO DONO DOS MEUS PENSAMENTOS EM UM MUNDO NO QUAL AS PESSOAS TOMAM PARA SI, COMO PRÓPRIO, O QUE É DO COLETIVO.

Se há amor, há confiança. Se há amor, há respeito. Se há amor, independente do que o coletivo fale, faça aquilo que você acredita ser certo e que, em seu íntimo, faz o seu coração vibrar.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O papel do professor na lógica construtivista

Datam de muito tempo as discussões acerca de temáticas que se referem diretamente à educação. Essa, enquanto uma das atividades humanas mais antigas, sempre provocou longos momentos de reflexão e constantes questionamentos nos antigos mestres, hoje tratados simplesmente como professores/educadores, sobre assuntos que perpassam o ato pedagógico: existiria uma melhor maneira de ensinar/aprender? Como o educando aprende? Construção, transmissão ou acúmulo de conhecimento?
Os estudos que historicamente balizaram os passos da educação, de modo geral, buscaram criar teorias (e, como conseqüência inevitável, métodos educativos) que explicassem e fundamentassem os questionamentos feitos anteriormente. Criaram-se distintos paradigmas educacionais, frutos diretos da incessante reflexão sobre as teorias anteriormente mencionadas mesclados com um modo de pensar de determinado período, de determinado lugar, de determinada cultura.
Destes tempos quase remotos que retomam lugares nos pensamentos dos estudantes de licenciatura ainda hoje, sobram inúmeros modelos de pensar e de agir que acabam re-significados com a intenção básica de tomar lugar na educação da chamada pós-modernidade. Vale lembrar que, hoje, as informações já não circulam na mesma velocidade de antigamente e, principalmente, que o “mundo globalizado” permite, em maior grau, que a aprendizagem ocorra, também, fora dos muros da escola. Em suma, o mundo mudou. As exigências mudaram. A educação mudou.
Uma das vertentes teóricas da educação mais fortes que constantemente ressurgem nas discussões pedagógicas é a que traz em si a idéia da construção de conhecimentos, sem sombra de dúvidas mais apropriada e racional do que a mera transmissão de saberes. Autores como Piaget, Vigotsky, Paulo Freire e Anísio Teixeira, acabaram contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento e para a manutenção desse ideal educativo. Obviamente, diferentes autores pensam de modos distintos, mas com ideais semelhantes e com vistas em um ponto comum: o desenvolvimento da educação.
No construtivismo de Piaget, por exemplo, que é fundamentado sobre estudos a psicologia infantil, a aprendizagem ocorre por meio de intensa atividade mental (reflexão) do educando sobre o objeto a ser aprendido. Parte-se, nas aulas, das necessidades e anseios dos alunos verificados pelo educador, buscando uma educação em níveis sócio-afetivos, cognitivos e psicomotores. Segundo WERNECK (2006, p. 175), o construtivismo é um termo usado freqüentemente e pode assumir diferentes conceitos, como por exemplo:

- como constituição do saber feita pelo estudioso, pelo cientista, pelo filósofo resultante da reflexão e da pesquisa sistemática que leva a novos conhecimentos. (...) O homem não “descobre” o conhecimento pronto na natureza, mas relaciona os dados dela recebidos constituindo os saberes. (...)
- o sujeito não propriamente “constrói” o saber, somente apropria-se de um conhecimento já estabelecido. O conteúdo é passado pelo ensino, já pronto e definido embora sempre passível de modificações, e cada um vai apreendê-lo de modo semelhante mas não idêntico. (...) Há, como mostra Husserl (1980), uma intersubjetividade entre os que dominam a mesma área do saber que atesta uma identidade na construção do conhecimento.


As pessoas, portanto, aprendem de maneiras distintas. Por mais que o processo de ensino seja semelhante (ou até igual), todo educando aplica ao conhecimento aprendido o seu modo de perceber o objeto e a sua visão de mundo, interferindo de modo subjetivo na sua própria aprendizagem. Contudo, isso não significa dizer que, necessariamente, as pessoas aprendem coisas diferentes, mas sim que elas percebem os objetos de modos distintos e singulares.
Criando uma ponte entre essa discussão e a leitura do capítulo 12 do livro “Jogos em Grupo” de Kamii e DeVries (1991), que trata de modo mais específico da educação infantil, e buscando discutir sobre o papel dos educadores dentro do construtivismo, faz-se importante e pertinente um dos objetivos para a educação infantil definidos pelas autoras que diz: “Com relação aos colegas, gostaríamos que as crianças desenvolvessem sua habilidade de descentrar e coordenar diferentes pontos de vista” (KAMII & DEVRIES, 1991, p. 288). Se as pessoas agem sobre os objetos, aprendem e acabam inserindo, para sua compreensão, aspectos que lhes são próprios (fundamentais para os processos de assimilação e acomodação), acabam apreendendo, aprendendo e re-significando conceitos, construindo o seu conhecimento por meio de uma forma ativa e não apenas recebendo respostas prontas, acabadas, sem sequer entender o processo do qual se originou.
Contudo, é fundamental e competente, que os educadores e os próprios alunos lutem pela autonomia do ser aprendente no processo educativo, com vistas na independência do aluno de seu professor. Isso não significa a inexistência do professor nem sequer o término de sua função, mas configura a posição do educador de uma maneira diferenciada, não mais como aquele que professa a verdade e, sim, como um mediador e incentivador da busca e da pesquisa. Sobre isso WERNECK (2006, p. 178) diz:

À medida que o sujeito atinge o nível de desenvolvimento necessário para a compreensão com a ajuda de elementos externos, o outro, o livro, o professor, a TV, a Internet apropriam-se do novo saber organizando-o a seu modo.

KAMII & DEVRIES (1991), trazem, através da discussão dos jogos em grupo, que os conteúdos a serem trabalhados devem estar de acordo com o nível de conhecimento dos alunos que deverão aprendê-lo. Assim, a adaptação/simplificação de regras (nos jogos) bem como da linguagem e da “lógica” (nos conteúdos diversos) significam, grosso modo, a disponibilização de conteúdos culturais em níveis nos quais as crianças, por si, possam compreender e (re) organizar. O papel do educador, portanto, sofre transformações significativas na medida em que sua função deixa de ser a de reprodutor de verdade com vistas numa homogeneidade das suas turmas. Para o construtivismo, o professor passa a lidar mais com o ponto de interrogação, na intenção de provocar os alunos em sua subjetividade para o avanço no campo dos saberes, do que meramente com o ponto final, na tentativa simples de dar respostas prontas e sem sentido. KAMII & DEVRIES (1991, p. 288) afirmam, de acordo com os objetivos traçados para a educação infantil no mesmo livro, que “precisamos ajudar as crianças a construir regras e a pensar de um modo que elas entendam”. Há que se compreender, entretanto, a necessidade de se terem bem definidos os objetivos que se buscam.
Outro fator que sustenta a idéia construtivista é a noção de se partir da realidade dos alunos, iniciar o processo educativo de acordo com o seu nível de conhecimento. Assim, e somente assim, é possível que o educador perceba o estágio no qual se encontram seus alunos e inicie o processo de planejamento de seus objetivos. Seguindo adiante, é necessário que os conteúdos a serem aprendidos pelos educandos sejam de seu próprio interesse, fator disparador que potencialmente desenvolve um desejo de ação sobre determinado objeto. WERNECK (2006, p. 183) afirma que

O conhecimento resulta da interação do sujeito com o objeto. O desenvolvimento cognitivo ocorre pela assimilação do objeto de conhecimento a estruturas próprias e existentes no sujeito e pela acomodação dessas estruturas ao objeto da assimilação.

O significado da aprendizagem, portanto, passa a ser entendido, fazendo um paralelo entre os textos de Kamii & DeVries e Werneck, como reflexo e/ou resultado das soluções alternativas encontradas para a resolução de determinado problema gerado pelo próprio processo educativo. Assim, o aprender parece um sem fim justificado que a cada novo conhecimento adquirido torna a criar “problemas”/perguntas que merecem a busca pela sua solução. Indo além, WERNECK (2006, p. 188) afirma que “o conteúdo deve ser apresentado como valor, ou seja, como algo que, de algum modo, vá preencher as necessidades do sujeito”. Dessa forma, entrando mais especificamente na área da educação física, é preciso que mostremos o valor da nossa área de conhecimento para os educandos, não restringindo nossas ações pedagógicas à mera prática desportiva, mas englobando sentidos e significados que permitam aos alunos o entendimento da relevância, para a saúde deles, das práticas regulares de exercícios sistematizados. Ainda, em dias em que as relações sociais estão cada vez mais degradadas, é importante que esses mesmos alunos percebam, através de diferentes jogos, a importância da manutenção de valores que permitam a amizade e as trocas interpessoais, também fundamentais para a aprendizagem em qualquer idade.
A tarefa não é simples e, certamente, exige rigor por parte dos educadores. Há que se buscar a compreensão dos elementos levantados neste texto objetivando um maior embasamento teórico que permita o entendimento do processo de aprendizagem. É fato que o construtivismo fornece bases relevantes para o processo educativo de um modo geral e, principalmente, é significativa a contribuição de Kamii & DeVries nas discussões sobre a teoria de Piaget. É fundamental, entretanto, que se perceba que, em se tratando de teoria construtivista, é impossível que se crie uma fórmula pronta de como se dar aulas. Isso segue exatamente na contramão de tudo o que prega o construtivismo, no qual cada caso é um caso e cada pessoa é única e tem direito a autonomia.











REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. KAMII, Constance; DEVRIES, Rheta. Jogos em Grupo na educação infantil: implicações da teoria de Piaget. Tradução: Marina Célia Dias Carrasqueira; São Paulo : Trajetória Cultural, 1991.
2. WERNECK, Vera Rudge. Sobre o processo de construção do conhecimento: O papel do ensino e da pesquisa. Ensaio: aval. Pol. Públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 14, n. 51, p. 173 - 196, abr./jun. 2006.
Disponível em: . Acesso em 16/05/2009.