sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Pensando e repensando a educação...[3]


(Escrito por CÁSSIA CASTRO)
Se é para falarmos sobre educação, eis-me aqui! Gostaria de iniciar meu texto com uma mensagem que ouvi ainda quando estava cursando meu pós em psicopedagogia. Já ouviram falar no Sermão da Sexagésima, do Padre Antônio Vieira? O tema central do Sermão da Sexagésima é a ‘Parábola do semeador’, tirada do Evangelho Segundo São Lucas.  Nele, porém, o Padre Vieira usa de uma metáfora: pregar é como semear. E, por esse caminho, ele tenta saber o porquê de os sermões católicos não estarem mais surtindo efeito (ou surtindo pouco efeito) entre os cristãos. Ele examina a culpa do pregador, considerando sua palavra, sua ciência, o estilo do seu sermão e até sua voz. Segue por vários caminhos até chegar a sua conclusão: os pregadores tinham perdido sua fé e, destorcendo as palavras da Bíblia para defenderem interesses mundanos, não atingiam mais a sua meta: pregar a palavra de Deus.

Gostaria aqui traçar um paralelo entre o texto citado a cima e a educação. Nossos professores (os semeadores/pregadores para o Padre Antônio Vieira) já perderam a fé há muito tempo, não acreditam mais nas palavras que ‘pregam’, e, na sua maioria, ainda não se deram conta disso. Os pregadores também perderam sua fé. Nossos alunos não querem mais saber de aprender, e aqui eu me refiro ao ‘aprender para libertar’, como dizia Paulo Freire. Tentem entrar em uma sala de aula e verão o que eu digo: se o professor não vier „cheio de coisas interessantes“ e bem mastigadinhas, aluno nenhum quer saber do que ele fala. E aqui, comprarei uma briga bem grande, pois, a meu ver, um dos princiais motivos do porquê da ‚decadência‘ da nossa educação está na família. Famílias dilaceradas, onde não existe o respeito nem o amor, povoam nossa sociedade. E não estou aqui tentando tirar a culpa das costas dos professores, não. Mas acho que temos que ir um pouco mais ‘a fundo’, para entender bem o que se passa, para, de repente, encontrar o exato ponto onde deixamos de ensinar e passamos a simplesmente ‘passar conteúdos’.

Como já dizia minha mãe (e aposto que vocês já ouviram isto também): saco vazio não para em pé. Isso diziam as mães às crianças que não queriam comer. Deixando de lado o fato de muitas das nossas crianças não terem em casa o que comer, o que interfere e muito na educação, quero utilizar a frase a cima para aprofundar o assunto da família: nossas crianças são, na sua maioria, como sacos vazios: vazios de respeito, vazios de limites, vazios de amor, de abraços, de olhares, de cuidados, etc, etc, etc. E isso é uma das bases da nossa „pirâmide“, é o que nos move, o que nos sustenta, o que nos faz ir a diante. Agora minha pergunta: quem consegue aprender assim? Aprender para libertar! Libertar do quê? O que se vê nas salas de aula são seres que necessitam prender-se: prender-se nos braços e abraços carinhosos dos pais, prender-se nos limites de respeito impostos por pessoas que, apesar de todas as dificuldades que a vida oferece, estão e estarão sempre ali, ao lado de seus filhos, para lhe segurarem as mãos e darem a eles a força que precisam para ir em frente, apesar de todas as diversidades. 

A meu ver, enquanto não estruturarmos as nossas famílias, não vamos ter progresso nenhum em relação à educação. Os professores tem que entrar em uma sala de aula para ensinar os conteúdos que aprenderam na universidade, que foram preparados para ensinar. Professor deve exigir respeito e não ter a incumbência de ensinar aos seus alunos o que é respeito. Professor deve ser professor, mestre, aquele pelo qual nos orgulhamos. Pai e mãe devem ser pai e mãe, impor limites, mostrar aos filhos o que é ser educado, o que é ser gente e o que é ter respeito pelos mais velhos. Enquanto esses papéis não estiverem bem definidos, continuaremos a divagar sobre métodos, conceitos e concepções, para que as nossas palavras ecoem pelo tempo e algum dia toquem os ouvidos (ou os olhos) daqueles que têm o poder de fazer alguma coisa: nós mesmos! E ai assim, terei o prazer de discutir sobre a escola conteudista que temos hoje no Brasil, e então poderemos verificar que sim, este aluno que está na escola para aprender os conteúdos, para se preparar para o trabalho, e que foi educado em casa por seus pais, dentro dos limites da razão e da coerência, este sim poderá no ensino médio ‘escolher’ a direção que seguirá profissionalmente e deixar de lado as disciplinas que não ‘precisará’ mais. Mas para isso é preciso em longo caminho de estruturação dos nossos pequenos. Para que eles aprendam o valor das coisas, e não o seu preço.

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