sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Síntese do texto “A prática da capoeira e sua contribuição à conscientização social”, de Anselmo da Silva Accurso.

Há muito tempo discutem-se questões relacionadas ao preconceito racial e à discriminação no Brasil, bem como fala-se da já instaurada superação desses problemas que assolam a nossa gente. São inegáveis as problemáticas referidas acima em nosso país ainda na atualidade. Por mais que se tente esconder e negar todo o distanciamento social entre as classes oprimidas (negros, índios, mulheres, homossexuais, etc.) e as opressoras, o preconceito continua a realizar seu impiedoso “papel social” (que serve somente ao opressor) na manutenção das muralhas criadas entre classes sociais distintas.

No texto referido, o qual originou essa síntese, o autor relata que por muito tempo o negro, de forma mais específica devido à relação do texto com a prática da Capoeira, “foi tratado como ‘coisa’” ( p. 115) e que, para isso, teve de ser distanciado de sua cultura, de suas crenças, “esvaziado”, como diz Accurso com base nas palavras de Ilíada Pires da Silva.

De um modo geral, a leitura do texto de Accurso nos provoca para a reflexão frente às questões ligadas aos problemas que acabam, infelizmente, por caracterizar nossa realidade social e econômica atualmente. Conectados diretamente com fatores historicamente constituídos, os problemas sociais de hoje se apresentam da mesma forma como nos tempos da escravidão, alterando-se apenas o sistema econômico vigente. Para o autor, os “valores” do colonialismo ainda imperam em nossa sociedade de modo que aquele que vende sua força de trabalho dificilmente tem condições suficientes para alcançar uma vida digna que o possibilite suprir suas necessidades básicas e, ao mesmo tempo, tornar-se livre. Há uma mínima possibilidade de ascensão social e, ainda, uma força opressora invisível (ideologia dominante) que pressiona intensamente as classes oprimidas e que nega a história (por deter controle e poder), diferentemente dos tempos do cativeiro no qual o “senhor” era conhecido. Assim, toda e qualquer classe oprimida, negada, marginalizada, sejam negros, índios, amarelos, alguns brancos, mulheres, homossexuais, entre outras, lutam pela liberdade e contra um mesmo opressor, mas não conseguem e talvez nem pensem numa possível articulação e união de suas forças por um mesmo ideal: LIBERDADE.

Faz-se necessário um resgate da história e da cultura de cada um desses grupos para que seja possível a reaproximação das massas com suas identidades culturais, situando-os enquanto agentes da história e não apenas como espectadores de um mundo criado por outros. Assim, entra em cena uma ferramenta ímpar para esse resgate cultural dos negros e dos oprimidos de um modo geral: a capoeira e suas origens, sendo encarada como luta de resistência de um povo contra a dominação, de um ideal de liberdade e, por tal, elemento subversivo da lógica dominante. De acordo com Accurso, na capoeira

“a humildade impera, colocando todos juntos, traço de uma cultura empalidecida, mas viva. O negro e o oprimido em geral vão se encontrando e se afirmando como pessoas, firmando-se como guerreiros contra o inimigo poderoso. Vão aprender a humildade, onde ninguém é mais que ninguém, sem curvar a cabeça para os opressores. Isto é transformar-se de espectador em sujeito da história.” (p. 120)

Aos negros, a prática da capoeira traz, de forma direta, a possibilidade de situar-se na história e descobrir-se enquanto negro, valorizando sua cultura e a sua força (ou de seus ancestrais), não temendo a discriminação devido à compreensão do seu real valor. Aos brancos, oprimidos ou opressores, fica o exemplo vigoroso de uma luta social capaz de resistir por longos períodos sem perder seu foco. Segue o autor dizendo: “Quando cada um entender a história de sua classe, ficará mais ampla a compreensão das relações sociais e mais difícil aceitar a desigualdade e a discriminação” (p. 122).

“A capoeira é imprescindível neste processo de conscientização e de identificação com a cultura negra e sua luta. Não podemos reduzi-la apenas a um desporto ou produto exótico de consumo, nem a técnica fria sem comprometimento com sua cultura de resistência. Sem dúvida, a capoeira tem mensagem, tem luta, tem arte suficiente para colaborar com um movimento comum em que todos rompam preconceitos e discriminações, formidáveis muralhas entre os homens, que tanto interessam aos que os subjugam.” (p. 126)

Referências Bibliográficas:

· ACCURSO, Anselmo da Silva. Capoeira – Um instrumento de Educação Popular. Produção Independente.

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