sexta-feira, 23 de maio de 2008

Considerações sobre o texto “Os jogos desportivos coletivos e as inteligências múltiplas na interface da relação homem e ambiente”, de Balbino.

Ao iniciar o texto acima mencionado, o autor nos traz indícios e bases para que melhor compreendamos as possibilidades de relação entre homem e diversos ambientes, dando-nos a importância da dimensão real das vivências em jogos coletivos, sua direta relação com o meio social e a interação com as múltiplas inteligências relatadas por Gardner.

Na fala em que pontua conceitos de qualidade de vida, Balbino explica que o homem é “produto dos relacionamentos firmados com o mundo exterior e consigo mesmo, dos significados extraídos dos desafios enfrentados em diversos momentos” (p. 353). Com o avanço da tecnologia e as mudanças bruscas nos modelos de vida da humanidade de modo geral, o homem necessitou adquirir uma capacidade de adaptação rápida aos estímulos do ambiente (sociedade), se colocando aberto à espera por momentos de alegrias, tristezas, vitórias, derrotas, bem como momentos no qual deve superar, sozinho, expectativas que lhes cabem dentro de determinado grupo ou se permitir ao diálogo e à interação com o mesmo. Assim, segundo o autor, os jogos desportivos coletivos (JDC) se transformam em poderosa ferramenta para aprendizagens que possibilitam uma melhora na qualidade de vida daquele que participa do esporte. Pessoalmente, acredito que o trabalho dos desportos coletivos (principalmente no desporto escolar) inserido e amparado por um contexto maior relacionado à manutenção da saúde, à interdependência fundamental dos participantes (cooperação) e ao desenvolvimento de uma maior consciência social, tem validade garantida e impacto eficiente se comparado ao trabalho isolado do “esporte pelo esporte” e da “vivência pela pura e simples vivência”. Esse trabalho isolado é um dos fatores que acaba por tornar desacreditada a nossa área de conhecimento pela não relação com uma aprendizagem que não aquela da aquisição de alguma habilidade motora.

Prosseguindo na síntese do texto, Orlick (1978) apud Balbino relaciona os jogos e o esporte com a sociedade indicando que aqueles podem representar reflexos desta. Me apropriando das palavras de Orlick, que diz que os jogos podem representar refletidamente algumas características próprias do meio em que vivemos, vou além para uma possibilidade de re-significação, através do esporte, desta mesma sociedade refletida. Da mesma forma que características da sociedade perpassam a vivência do jogo em si, este mesmo jogo, sem sombra de dúvidas, pode colaborar para uma possível recriação de conceitos e valores internalizados e estabelecidos nessa sociedade através da reflexão e do aprendizado proveniente do esporte/jogo.
Indo adiante, a riqueza da diversidade de idéias, maneiras, atitudes, movimentos e estratégias envolvidas em determinado jogo por uma equipe formada por um grupo de pessoas distintas ilustra a incrível gama de possíveis relações existentes numa vivência desportiva. Para se jogar em uma equipe de modo organizado, é preciso que a pessoa se permita (sem se submeter) adentrar nessa rede infinita de relações que têm um caráter individual (próprio de cada um), mas que se manifesta para um bem comum e maior a todos. Além desses fatores que exemplificam de certa forma a cooperação, os JDC funcionam como um extremo estímulo ao desenvolvimento da inteligência para além da simples adaptabilidade, na medida em que cobra, na individualidade de cada ser, respostas rápidas e precisas aos problemas que surgem. Assim, o autor do texto insere em sua obra a relação entre os JDC e as múltiplas inteligências proposta por Howard Gardner (1994), listando:

· Inteligência Corporal Cinestésica: expressa pela capacidade de utilizar o corpo ou partes dele para solucionar problemas ou criar novos produtos. Também expressa a habilidade com que se manipulam objetos com as mãos, pés e outras partes do corpo humano, além da capacidade de utilizar o corpo como forma de expressão e linguagem.
· Inteligência verbal lingüística: é a inteligência fundamental para a existência das relações. Se expressa pela compreensão e pelo desenvolvimento da fala, da escrita e da leitura.
· Inteligência lógico-matemática: É expressa pela capacidade que o ser humano demonstra de resolver cálculos, expressões, problemas lógicos, raciocínio dedutivo e indutivo, etc. Nos JDC se manifestam em estatísticas de jogos e esquemas gráficos.
· Inteligência Espacial: Identifica-se essa inteligência pela facilidade de compreensão do espaço (ambiente) de jogo, noção de tamanho, profundidade de quadra, distâncias, alturas, etc.
· Inteligência Musical: Traz para o indivíduo que a detém de forma apurada a compreensão rítmica e a execução de movimentos dentro de determinado ritmo.
· Inteligência naturalista: Se dá pela capacidade de identificação de plantas, animais e demais características do ambiente. Nos JDC expressa a inquietação na aprendizagem das funções dos sistemas biológicos (organismo) durante exercício programado.
· Inteligência Interpessoal: Se refere à compreensão do outro e dos seus sentimentos e necessidades. É fundamental para a formação e manutenção dos relacionamentos entre os seres.
· Inteligência Intrapessoal: É a capacidade de auto-conhecimento. Conhecer seus limites, anseios, necessidades. Nos JDC expressa a capacidade de demonstrar equilíbrio psicológico e suporte à pressão.

De acordo com o descrito acima, a compreensão da relação entre o ambiente dos JDC e as múltiplas inteligências do ser humano propostas por Gardner nos permite perceber o indivíduo em sua totalidade durante a vivência desportiva. Dessa forma, dar possibilidades de um completo envolvimento do aluno com o ambiente do desporto coletivo pode contribuir para seu efetivo desenvolvimento de acordo com os preceitos de qualidade de vida.

Referências Bibliográficas:
MOREIRA, Wagner Wey e SIMÕES, Regina. Esporte como Qualidade de Vida. Piracicaba: 2002.

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